Por Daisaku Ikeda
Desde que se converteu ao budismo, Shin-iti Yamamoto veio observando todos os tipos de líderes veteranos. Houve aqueles com mania de grandeza, que gostavam de alardear feitos grandiosos, mas eram desregrados com bebidas alcóolicas ou as finanças e viviam de maneira desordenada, imersos em problemas. Outros agiam com prepotência e arrogância e feriam sem receio o coração de muitos companheiros. Houve ainda os dissimulados que não realizavam a prática e as atividades na base com honestidade mas mantinham as aparências com astúcia e se autopromoviam.
Por essa razão, Shin-iti jurou para si mesmo que construiria com as próprias mãos a organização ideal, aquela na qual ele afirmaria com total orgulho: “Esta é a verdadeira Soka Gakkai”.
A VERDADEIRA JUSTIÇA
Mesmo que justifique seu retrocesso na fé tomando como referência esses maus líderes veteranos, no final, quem sofre e quem perde é somente você. Não é porque o outro está errado que você é o certo.
Justiça do ponto de vista do budismo significa você manter a fé e persistir na prática até o fim independentemente do que aconteça. Fazer assim é a própria revolução humana, a transformação do seu destino e a conquista da condição de felicidade absoluta. Nitiren Daishonin adverte: “Independentemente de a pessoa ser tentada pelos bons ou ameaçada pelos maus, se ela abandonar o Sutra de Lótus, conduzirá a si própria ao inferno” (END, v. 4, p. 201). É desejável que todos os líderes tenham:
(1) prática da fé forte e vigorosa;
(2) caráter admirável;
(3) conquistem grande confiança social.
No entanto, a maioria ainda está se desenvolvendo, em meio à árdua luta visando esse objetivo. Por isso, certamente podem ocorrer embates mútuos, devem envolver o outro com um coração forte e amplo e prosseguir avançando abrindo caminhos do Kossen-rufu empenhando-se sempre para criar união entre as pessoas. Agir assim garante seu crescimento individual. O local para exercer a prática budista nos Últimos Dias da Lei é em meio ao tumulto da multidão de seres humanos desvairados.
Em vez de se deixarem levar por qualquer simples movimento das pessoas:
(1) tenham o mestre no coração;
(2) creiam na verdadeira lei;
(3) objetivem a sua revolução humana e sua iluminação;
(4) avancem junto às atividades da Soka Gakkai.
No Sutra Nirvana surge a fábula do Menino Montanhas Nevadas (Sessen Doji). Diante dele, que realizava seu exercício budista de bodhisattva na Montanha Nevada, surge um demônio faminto que lhe transmite a metade de um ensinamento do Buda. O menino pede para que o demônio lhe ensine a outra metade e promete em troca oferecer o próprio corpo como alimento. Após ouvir a outra parte do ensinamento, joga-se do alto de uma árvore para dentro da boca do demônio.
Subitamente, o demônio se transforma em Taishaku e acolhe o menino em seus braços. Louvando a postura de Sessen-doji, de não poupar a própria vida pelo budismo, Taishaku lhe explana sobre a iluminação. Algo que não se pode perder de vista ao ler essa parábola budista do Sessen-doji é que o menino se lançou para a boca de uma divindade budista disfarçado de demônio. Acredito que esse cenário tem o significado de um alerta, e nos ensina que, no nosso caminho em busca da Lei, não podemos ser influenciados de maneira alguma por aspectos como caráter, status social ou cargo do outro. Independentemente de quem e como ele seja — mesmo um demônio —, devemos manter nossa busca constante e contínua à Lei, sem qualquer hesitação, pois esse é o caminho para a nossa iluminação.
Parábola do brâmane que suplica pelo olho
Por outro lado, no Tratado sobre o Sutra da Perfeita Sabedoria (Daichido-ron), existe a parábola do brâmane que suplica por um olho. Conta-se que Sharihotsu, em seu empenho para obter a iluminação por meio da prática do Caminho do Bodhisattva, deparou com um brâmane que pediu que lhe doasse um dos olhos. Sharihotsu arranca um de seus olhos e entrega ao brâmane, mas este sequer lhe agradeceu. Pior, disse que o olho doado era fétido, cuspiu nele, jogou-o no chão e ainda pisou sobre ele. Sharihotsu ficou indignado. Pensou: “Não conseguirei salvar alguém como ele!”, e acaba por abandonar a prática do Caminho do Bodhisattva.
É um sentimento muito natural no ser humano ficar mais motivado e se dedicar com mais entusiasmo na mesma proporção com que suas ações e seus resultados são valorizados ou elogiados pelos outros ao redor. É responsabilidade do líder reconhecer e destacar aqueles que dedicam sinceros e admiráveis esforços, louvá-los e incentivá-los.
JAMAIS PERCA A MOTIVAÇÃO
No entanto, mesmo que seus esforços não sejam reconhecidos ou valorizados, jamais pode acontecer de alimentar ódio ou rancor pelos líderes ou pelas pessoas à sua volta; tampouco perca a motivação por isso. Esse tipo de atitude apaga todo o benefício e toda a boa sorte acumulados e interrompe o seu desenvolvimento. A prática budista é uma batalha contra a maldade que existe dentro de si. A maldade se utiliza de todos os tipos de táticas e artimanhas para roubar o ânimo das pessoas que tentam se dedicar bravamente em prol da fé. A maldade age para destruir seu coração. Pode acontecer de vocês serem invadidos por pensamentos como: “Por que só eu tenho de fazer tudo isso?”, "Por que só eu sofro tanto assim?" Contudo, o Gohonzon está ciente de tudo. Sob a luz do princípio de causa e efeito da vida, quanto mais dedica esforços e se empenha na prática budista, mais acumula boa sorte na vida.
FONTE: Jornal Brasil Seikyo Ed. 2164 e 2166
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